O Senhor Esteve Com José

Seu senhor viu… 

Estamos de volta à saga de José. «O Senhor esteve com José». Essas palavras são a chave para o desenvolvimento do drama que agora retoma o fio que foi abandonado por um tempo por causa do interlúdio de Judá e Tamar. A presença de Deus está constantemente em segundo plano, tanto quando José está com problemas quanto quando ele tem sucesso. Um Midrásh comenta: «amigos humanos sempre podem ser encontrados quando um homem tem sucesso, mas em tempos de dificuldade, eles tendem a abandoná-lo. Deus não: ele esteve com José quando foi escravo, quando esteve na prisão e quando foi vice-rei».

O início do Capítulo 39 é notável: ele descreve o padrão que veremos várias vezes mais nesta história.

«O Senhor esteve com José» (Gênesis 39:2).

«O senhor de José viu que o Senhor esteve com ele» (Gênesis 39:3).

«Portanto, seu senhor entregou tudo em suas mãos» (Gênesis 39:4).

«Quando seu senhor viu que o Senhor esteve com ele» Para mim, este é um dos testemunhos mais poderosos deste livro: a Bíblia é muito honesta, e muitas vezes vemos as falhas, os erros, as fraquezas e até os pecados de seus principais personagens; entretanto, chega o momento inevitavelmente em que as pessoas ao redor também veem a bênção de Deus sobre elas. Vimos isso com Abraão, Isaque, Jacó e também com José. Potifar, o senhor de José, viu que o Senhor esteve com José e colocou tudo em suas mãos.

Formoso de porte e bonito

Logo depois de saber que o senhor de José colocou tudo em suas mãos, também descobrimos que José foi formoso de porte e bonito. Essas palavras marcam uma transição para a próxima parte da história. Aprendemos que José parecia especial, não apenas para seu senhor.

Todo mundo conhece a história de José e a esposa de Potifar. É interessante que a Escritura nem mesmo dá o nome dela; somos simplesmente informados de que José recusou a esposa de seu senhor. Por quê? Porque como um servo, ele provavelmente tinha que obedecê-la; afinal, ela era a esposa de seu senhor; mas neste conflito entre o dever de servo e sua consciência e Deus, ele escolheu Deus.

Em sua resposta à esposa de Potifar, José disse que ceder a ela seria um pecado diante de Deus. Vamos contemplar essas palavras —«pecado diante de Deus»— e vamos imaginar como foi diferente de outras culturas. Em muitas outras culturas, o adultério seria meramente um mau comportamento; uma esposa seria considerada uma propriedade e seria considerado como lesão à posse de um homem. Na Bíblia, porém, a confiança conjugal tem sanção divina e é fundamental para o relacionamento humano. Portanto, o adultério é um pecado diante de Deus. Claro, José também não queria violar a confiança de Potifar, mas ainda assim, o ponto principal era Deus: ele não queria pecar diante de Deus. Isso significa que, embora Deus também estivesse com José nesses momentos de grande tentação e responsabilidade, sua presença não foi o poder mágico de José para ser justo, mas sua bússola moral que fornecia orientação espiritual.

Temos motivos para acreditar que Potifar suspeitou de algo e realmente não acreditou em sua esposa, porque no Egito a punição pelo crime de que ela o acusou foi muito mais severa do que a que José recebeu. Potifar teve que afastar José de sua esposa, então José foi preso, mas ele foi enviado para a prisão do rei (alguns acreditam que o próprio Potifar foi o superintendente daquela prisão). No entanto, as portas da prisão não puderam deter a volta da presença do SENHOR. Mais uma vez, somos informados de que «o SENHOR esteve com José».

A prisão

O último versículo deste capítulo nos fala sobre o mesmo padrão que vimos na casa de Potifar: o carcereiro-mor «e nenhum cuidado tinha o carcereiro de todas as coisas que estiveram nas mãos de José, porquanto o Senhor esteve com ele, e tudo o que ele fazia o Senhor prosperava».

O Senhor esteve com José.

O carcereiro-chefe viu que o Senhor esteve com José.

O carcereiro-chefe colocou tudo e todos sob a responsabilidade de José.

O próximo capítulo, e a próxima seção da narrativa, começa com o descontentamento do Faraó com seu (מַשְׁקֵה; mashké) seu «copeiro» e (הָאֹפֶה; haofé) seu «padeiro» que serviam em sua corte real. Mashké —copeiro—: o provador real, um importante funcionário do governo; padeiro-chefe: os Egípcios eram gourmets renomados e conheciam 57 variedades de pão e 38 tipos diferentes de bolos. Faraó colocou seus dois servos principais na mesma prisão que José.

Eles não ficaram muito tempo na prisão quando ambos tiveram sonhos perturbadores na mesma noite. De manhã, José percebeu a ansiedade deles e perguntou a causa. Eles explicaram sua angústia: por estarem na prisão, não tinham acesso a sacerdotes e nenhum intérprete profissional de sonhos estava por perto para eles pedirem explicações. No Egito, os sonhos geralmente eram considerados visões codificadas para as quais era necessária uma chave. Intérpretes profissionais de sonhos que afirmam possuir essas chaves eram proeminentes no Egito, um manual Egípcio de sonhos (por volta de 1300 a.C.)  contém mais de 200 interpretações. Agora vocês podem entender por que eles estiveram tão angustiados. Eles estiveram na prisão, não tinham acesso a sacerdotes ou a intérpretes profissionais de sonhos. Mas José os indicou direto para Deus: «As interpretações não pertencem a Deus?» —encorajando-os a contar seus sonhos e confiando em Deus para lhe dar interpretações corretas—. Isso significa que em qualquer caso, fosse ele capaz ou não de interpretar seus sonhos, ele não reivindicaria poder ou sabedoria como os magos Egípcios. Está claro para José que as interpretações pertencem somente a Deus.

Já falamos sobre os dois tipos de sonhos: aqueles em que Deus realmente se dirige ao homem[1] e sonhos na forma de parábolas ou figuras, que requerem interpretação. Normalmente, Deus se comunica diretamente com estranhos: Abimeleque e Labão, por exemplo. Claro, Ele poderia ter feito o mesmo aqui, mas todo o tema das interpretações dos sonhos aqui é necessário para o bem de José. No entanto, há um detalhe notável imperdível: quando José compartilhou seus sonhos com sua família, não houve necessidade de interpretá-los profissionalmente. Em Canaã, não apenas Jacó/Israel, mas também os irmãos de José, que não foram muito bons ou espirituais neste ponto, entenderam o conteúdo dos sonhos perfeitamente, enquanto os Egípcios precisavam de interpretação. Todos vocês devem conhecer esta piada: quando o Papa visita Israel e vê «a linha telefônica direta para Deus» no escritório do Rabino Israelense, ele pergunta quanto custaria e fica surpreso com a resposta: «Um shékel». «Por que tão barato?!» o Papa pergunta. O Rabino sorri: «Chamada local». Não posso deixar de lembrar dessa piada toda vez que leio esta cena: a linguagem desses sonhos parece uma língua local na terra de Canaã, mas não é entendida pelos Egípcios.

Ambas as interpretações dos sonhos de José se realizaram exatamente na maneira como ele as explicou.[2] No entanto, o copeiro-chefe que voltou ao palácio do Faraó nunca contou a Faraó sobre José. Porém, a mão de Deus pode ser parada?

[1] Gênesis 20:3.

[2] Gênesis 40:9-13.

 

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About the author

Julia BlumJulia is a teacher and an author of several books on biblical topics. She teaches two biblical courses at the Israel Institute of Biblical Studies, “Discovering the Hebrew Bible” and “Jewish Background of the New Testament”, and writes Hebrew insights for these courses.

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