MAIS SOBRE A SOMBRA
Tivemos uma discussão muito animada e ativa após o meu último post, e sou grata a todos que contribuíram e gastaram tempo para escrever seus comentários. Antes de prosseguir, gostaria de resumir esta discussão e abordar os pontos mais importantes que foram levantados.
Eu voltaria mais uma vez à minha técnica favorita, PARDES, a fim de examinar o significado do versículo do livro de Números:
Não vos rebeleis contra o SENHOR, nem temais o povo da terra; porque eles são nosso pão: a sua defesa (origem.sombra) se apartou deles, e o SENHOR está conosco: não os temais.[1]
PESHAT: De acordo com a tradição Judaica, o Peshat é a chave para a compreensão das escrituras: Se descartamos o Peshat “o texto perde sua importância e significado histórico e se torna um copo vazio para ser preenchido com tudo o que o professor/intérprete quer”.[2] É verdade também que dentro do Peshat, uma passagem pode ser figurativa. No entanto, existem certas regras para determinar se um versículo deve ser entendido literal ou figurativamente. Por exemplo, quando a expressão não pode ser entendida literalmente –ou seja–, quando um objeto inanimado descreve uma coisa viva ou, vice-versa, vida e ação são atribuídas a um objeto inanimado –então a afirmação é obviamente figurativa– (por exemplo, em nosso versículo, a expressão “eles são nosso pão” deve ser entendida figurativamente). O oposto também é verdade: quando um versículo pode ser compreendido literalmente, deve ser entendido dessa forma, e nosso versículo pode ser entendido literalmente. Por estranho, desconfortável e inconveniente que possa parecer, o significado claro e simples dessas palavras se refere à sombra dos Nefilim: “sua sombra se foi”. Como escreve o Dr. Michael Heiser, “se é estranho, é importante”[3].
REMEZ (“indicio”) vamos lembrar, “é o significado a que os textos sugerem, embora ele não esteja declarado obviamente”.[4] A maioria das traduções torna a palavra “sombra” aqui como “proteção”, ou “defesa” atribuindo assim o implícito significado de proteção. No entanto, também podemos ler este texto de forma diferente no nível Remez –não como “proteção”, mas como uma “imagem”– (tzelem) de Deus (obrigado a Robert Tobin e Dorothy Healy por apontar isso). Uma vez que as palavras Hebraicas צלם tzelem (imagem) e צל tzel (sombra) estão conectadas, elas podem se referir à idéia de que, ao contrário dos homens, os Nefilim não têm a imagem (sombra) de Deus dentro deles: a imagem (sombra) de Deus se foi. Curiosamente, esta interpretação está também apoiada pelo fato de que, nestas palavras: סָ֣ר צִלָּ֧ם מֵעֲלֵיהֶ֛ם, a palavra צלם , “sua sombra” (tzel com sufixo plural) –é escrita exatamente da mesma forma que a palavra “imagem” em Gênesis 1:26-27–.
Eu também acredito que existe uma conexão real entre esses dois níveis: entre o pensamento profundo implícito de que a imagem de Deus se foi dos Nefilim e uma crença tradicional sustentada por muitas culturas de que as criaturas que não lançam sombra não são humanas.
Gostaria de lembrar que o método DERASH “examina não apenas o texto principal que está sendo estudado ou exposto, mas também qualquer outro texto sagrado que esteja associado ao texto principal”.[5] De fato, chegamos ao nosso texto atual de Números, porque usamos DERASH enquanto estudamos os versículos de Gênesis 6. Se compararmos estas duas escrituras (Gênesis 6 e Números 13-14), descobrimos que elas realmente suportam uma a outra –os versículos de Números validam a herança não humana–. Eu na verdade admiro a fé de Josué e Calebe, mas também posso compreender o meu povo lá no deserto –não somente eram gigantes os povos da Terra–, mas se eles não lançavam uma sombra, seriam necessárias uma grande coragem e uma fé muito forte para lutar contra essas pessoas.
HOMENS DE RENOME?
O próximo passo em nossa pesquisa será conectado à palavra “ish” (איש) “homem”. Gênesis 6:4 nos diz que Nefilim eram “homens do nome”, ou “homens de renome”. A palavra Hebraica “anashim” aqui é uma forma plural da palavra “ish”. O significado desta palavra é: “homem”, “pessoa”, “marido”. Uma objeção pode ser levantada, portanto, com base no significado desta palavra: se eles são chamados de “anashim” – homens– isso não significa que eles eram humanos normais?
Mais uma vez, usaremos o Derash aqui. É claro que temos muitos lugares na Torá onde a palavra “ish” é aplicada a um homem normal –começando em Gênesis 2:23 onde esta palavra ocorre pela primeira vez–. No entanto, surpreendentemente, também encontramos esta palavra usada em alguns casos especiais, referindo-se a anjos ou algum tipo de seres divinos. Vejamos exemplos:
Gênesis 18:22 – os homens (anashim) …foram para Sodoma.
Gênesis 32:24 – um homem (ish) lutou com Jacó.
Gênesis – um homem (ish) encontrou José vagando no campo.
Sabemos que em todos esses casos as pessoas a que se refere à palavra anashim/ish não eram apenas homens –eram seres divinos–. Portanto, podemos concluir que, no nosso caso, a palavra anashim não os define necessariamente como seres humanos.
OS CAÍDOS
Agora sabemos que os Nefilim eram gigantes e não seres humanos. Mas esses gigantes também eram maus. Como sabemos disso? Vamos usar um pouco de Hebraico novamente. A palavra Nefilim vem da palavra נפל, queda; um sufixo “im” simplesmente acrescenta pluralidade, portanto, eles eram “caídos”. Tendo nascido de anjos corrompidos, caídos e satânicos, os Nefilim passaram a encher a Terra de violência e maldade e também a se reproduzir ‘segundo a sua própria espécie’.
Eu amo os livros de C.S. Lewis. Durante algum tempo o único livro que li, além da Bíblia, foram as “Crônicas de Nárnia”. Eu acho absolutamente incrível como Lewis foi capaz de revelar profunda verdade espiritual nestes contos de fadas para crianças. No entanto, havia uma coisa que eu não conseguia entender naquele momento: por que ele usaria todos esses elementos “mitológicos” em suas histórias –por exemplo–, por que fazer a Bruxa Branca muito alta e explicá-la por sua origem não humana? Eu não entendia então, mas agora posso ver, que mesmo neste pequeno detalhe, Lewis ainda estava refletindo verdades espirituais.
Da próxima vez, vamos falar sobre a História do Dilúvio: por que Deus teve de ir a medidas extremas como uma inundação global para resolver o problema. No entanto, há algo que eu quero dizer antes de nos aprofundarmos nessa história. Eu mostrei a vocês o uso de Peshat, Remez e Derash, e todos esses níveis são maravilhosos e muito úteis, mas é só quando nos movemos para o Sod –Segredo / Mistério– que nós realmente teremos todas as respostas e seremos capazes de compreender esta história. Eu sei disso por experiência própria: fui levado a escrever meu último livro (Abraham had two sons) de acordo com os níveis de Pardes –e foi somente quando eu cheguei ao último capítulo—Sod—que Ele revelou Sua mensagem final para mim. Aqueles que leram este livro saberão que a parte Sod é a parte mais curta do livro, mas é lá que as respostas finais são dadas (se você ainda não leu o livro, clique aqui para obtê-lo: http://readjuliablum.com). O mesmo é verdadeiro sobre a nossa história, por isso vamos confiar nele para revelar Seus segredos no devido tempo.
[1] Números 14:9
[2] Hidden Treasures, Joseph Shulam, Netivyah Bible Instruction Ministry, 2008, p. 24
[3] The Unseen Realm, Michael Heiser, Lexham Press, 2015
[4] I Hidden Treasures, Joseph Shulam, Netivyah Bible Instruction Ministry, 2008, p. 24
[5] Ibid., p.22
Poderoso, sou apreciador da palavra de Deus, amei os estudos, irei usar para pregação, Deus continue abençoando tremendamente.
Professora
Saudações
Seus artigos são de suma importância para quem quer entender mais sobre muitas situações ou eventos que ocorrem nas Sagradas Escrituras.
O conhecimento do hebraico é de fundamental importância para tal entendimento. As tradições hebraicas também.
O termo nephilin sempre me deixou curiosa , sua tradução, o medo que provocou em 10 príncipes que foram espiar a terra. O fato de serem ” gigantes” cometeria tanto medo a ponto de alguns milhares de soldados desistirem de uma conquista?
Mas, com este novo entendimento: seres sem sombra, seres diferentes dos humanos… Já justifica o medo sem fé daqueles hebreus.
Obrigada mais uma vez
Amo seus artigos
Um abraço fraterno no Eterno
MA. Isabel
MAGNÍFICO…
EXPLÊNDIDO…
PERFEITO…