Jesus chora por Jerusalém
Agora sabemos por que Jesus entrou em Jerusalém no Domingo. Nós também sabemos a partir do livro de Êxodo, que no dia 10 de Nisan, o cordeiro da Páscoa era escolhido e mantido separado e começavam as preparações para o seu abate. Por esta razão, Jesus teve que entrar em Jerusalém naquele mesmo dia —no dia 10 de Nisan—. Jesus foi crucificado no décimo quarto dia do mês; quatro dias antes, no Domingo, o décimo dia do mês, Ele entrou em Jerusalém e começaram os preparativos para Seu sacrifício a fim de tornar-se o Cordeiro Pascal no dia 14 de Nisan: «E o guardareis até ao décimo quarto dia do mesmo mês…»
Assim, os relatos dos Evangelhos correspondem perfeitamente ao cenário estabelecido por Deus durante o período do Êxodo —e só podemos imaginar a angústia da alma de Jesus quando Ele estava indo para Jerusalém—: «agora minha alma está perturbada, e o que devo dizer “Pai, salva-Me desta hora?” Mas com este propósito vim para esta hora»[1]. No entanto, antes desta entrada em Jerusalém, algo muito importante acontece com Jesus: algo que definitivamente pertence ao seu sofrimento —à sua agonia, à sua dor— e, neste sentido, também pertence à sua semana da paixão. A que nos referimos?
Em Lucas 19, lemos que quando Jesus se aproximou de Jerusalém: «Ele viu a cidade e chorou por ela, dizendo: “Se tivesses sabido, mesmo tu, especialmente neste teu dia, as coisas que fazem para a tua paz. Mas agora elas estão escondidas de seus olhos. Porque dias virão sobre ti quando os teus inimigos construirão uma rampa de ataque ao teu redor, te cercarão e te apertarão de todos os lados, e te nivelarão, e os teus filhos dentro de ti, até o chão; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conhecestes o tempo da vossa visitação”»[2].Porque esta cena é tão significativa? É importante para nós entendermos que Jesus sabia que Ele tinha vindo, não somente para o seu próprio sofrimento, mas também para o sofrimento do seu próprio povo —para os transformar em «inimigos por sua causa»— e, portanto, Ele chorou abertamente por todo o sofrimento a ser desencadeado sobre Israel em seu nome.
Jesus chora por Lázaro
Vocês se lembram quantas vezes Jesus chora nos Evangelhos? Anos atrás, meu livro sobre as lágrimas de Deus pelo sofrimento de Israel («If you are the Son of God…») começou a partir da compreensão (revelação) deste fato simples: em todo o Novo Testamento, Jesus chora apenas duas vezes —uma vez aqui, por Jerusalém e uma vez por Lázaro («Jesus chorou»)—. Não existem coincidências na Palavra de Deus, portanto, é importante ver essas cenas uma ao da outra, e as lições a serem aprendidas com esta justaposição são extremamente profundas.
Todos nós nos lembramos da história de Lázaro de João 11: Lázaro adoeceu, suas irmãs (e ele mesmo) esperavam que Jesus viesse para curá-lo, porém Jesus não chegou a tempo, e Lázaro morreu. Quando Jesus finalmente veio, ambas as irmãs dizem as mesmas palavras a ele: «Senhor, se você estivesse aqui, meu irmão não teria morrido»[3] . Ao vê-los chorando, «Ele agitou-se no espírito e comoveu-se»[4]; então Ele foi com elas ao túmulo e «Jesus chorou».
Para mim, a coisa mais maravilhosa sobre essas lágrimas é a sua gloriosa contradição com o que aconteceu, e acontecerá na parte visível da história. Elas de alguma forma não se encaixam com os acontecimentos de Betânia até este ponto, e aparecem quase excessivas ou desnecessárias se soubermos os acontecimentos futuros (de qualquer maneira, por que chorar se Lázaro está prestes a ser ressuscitado dos mortos?) Parece que elas são registradas aqui apenas com o propósito de nos mostrar seus sentimentos interiores —seu coração—.
Essencialmente, todo este capítulo de João apresenta uma dupla lição sobre Israel. Em primeiro lugar, a história de Lázaro nos ensina que tudo o que vem acontecendo a Israel foi planejado por Deus desde o início, e que Ele mesmo é o autor desta história. Assim como Lázaro não foi abandonado por Jesus, mas foi escolhido «para a glória de Deus»[5], da mesma forma Israel não é rejeitado por Deus, mas escolhido por Ele para o maior dos milagres e para trazer a Ele grande glória. Eu vos «criei para a Minha glória»[6]. O caminho de Israel para esta glória, assim como o caminho de Lázaro, não é fácil —mas foi sua escolha, sua eleição, seu plano—. Este é o lado objetivo de seu plano, por assim dizer; através da história de Lázaro vemos também um lado interior, subjetivo (se alguém pode dizer uma coisa dessas sobre Deus) deste plano —vemos como Ele lamenta interiormente junto com Israel—, vemos quantas lágrimas e quanta dor, as lágrimas, a dor e a tristeza de Israel causam a Ele. O Senhor que ama seu povo tão ilimitadamente sofre junto com Israel, apesar do fato de que seu sofrimento é parte de seu plano.
No túmulo de Lázaro Jesus chora pela dor através da qual Ele teve que submeter Lázaro durante aqueles dias de doença e expectativas fracassadas, pela tortura da incompreensão que encheu suas horas finais e sobre como já «tinha sido… quatro dias»[7] desde que ele foi colocado no túmulo. Jesus chora por Jerusalém com as mesmas lágrimas de amor e compaixão que ele chorou por Lázaro. «Vede quanto o amava» pode ser nossa única resposta. Ele chora pelo sofrimento através do qual Deus teria que submeter seu povo, a tortura de esperar pelo Senhor, e a incapacidade de compreender por que Ele permanece em silêncio enquanto seus corações seriam despedaçados durante os pogroms, a inquisição e o holocausto. Ele chora porque esse é o seu plano, e com a sua própria mão Ele mesmo vai, por longos séculos, levar Israel para a escuridão da doença e da rejeição. Embora Jesus saiba que em poucos instantes Lázaro será ressuscitado, ele chora no túmulo de Lázaro pela dor de seu amado e pelo caminho para esta ressurreição. Ele chora por Jerusalém exatamente da mesma maneira. Embora Ele saiba que em apenas alguns «momentos» («para o Senhor… mil anos [é] como um dia»)[8]. Jerusalém irromperá do seu cativeiro, Ele lamenta todo o sofrimento que sua amada deve suportar no caminho para a ressurreição.
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