Duas expectativas
Meus queridos leitores, eu realmente aprecio sua paciência. Para alguns de vocês, minhas últimas postagens podem ter parecido um pouco áridas, mas, sem essa evidência, mesmo evidência árida, não podemos compreender completamente a história de Israel e de Jesus. Em nosso último artigo, vimos que os apocalipses se tornaram o principais transportadores de idéias escatológicas e conceitos messiânicos no período do Segundo Templo e se tornaram o centro de todo o processo de repensar e reinterpretar a Bíblia durante esse período. Até agora, também sabemos que, a frente desta mentalidade apocalíptica, encontra-se o Livro (Apocalipse) de Daniel, com a famosa visão de Daniel de “Um como um Filho do Homem”, que vem nas nuvens do céu. O apocalipse de Daniel forneceu um novo paradigma para as expectativas messiânicas, bem diferente daquele de Davi. Neste novo paradigma, vemos claramente uma nova figura, um salvador celestial —Filho do Homem—.
O Livro de Daniel é um dos primeiros apocalipses já escritos, e também um dos mais influentes. Como escreveu Leo Back, um teólogo e erudito Judeu: “Sempre que nas obras posteriores é mencionado ‘aquele filho do homem’, ‘este filho do homem’ ou ‘o filho do homem’, é a citação de Daniel”.[1] E de fato, em nosso último artigo, vimos diferentes variações e reinterpretações do ‘Filho do Homem’ de Daniel em outros apocalipses Judaicos. Os escritos apocalípticos posteriores fizeram uso criativo de Daniel 7 e desenvolveram sua própria nova expressão de fé e esperança para os justos. Em alguns escritos, as concepções do Filho do Homem e do Messias são claramente distintas, enquanto que em outros elas são reunidas —mas em lugar algum estão completamente fundidas—. Essas ideias não são apenas diferentes em sua origem, elas também representam, em seu desenvolvimento, duas vertentes separadas de expectativas escatológicas e indicam duas ênfases distintas da esperança ‘messiânica’: um salvador que é terrestre, nacional e político e um salvador que é predominantemente transcendental, eterno e universal. Esses dois complexos diferentes de ideias se refletem em dois nomes diferentes: ‘Messias’ e ‘Filho do Homem’.
Assim, o Filho do Homem apocalíptico articula a visão de mundo de um grupo particular de Judeus no primeiro século EC: Ele é uma figura completamente transcendente, uma contraparte celestial dos justos na terra. Enquanto eles são oprimidos e humildes, ele é entronizado e exaltado, mas quando ele se manifesta no julgamento escatológico, eles também serão exaltados.
Um salvador transcendental em Qumran
Antes de abordarmos a nossa questão principal —por que Jesus chamou a Si mesmo de Filho do Homem?— Gostaria de voltar por um momento aos sectários de Qumran e mostrar que eles também pensavam em seu líder como o Salvador transcendente. Verdade, eles não usaram o termo ‘Filho do Homem’, mas um dos mais antigos, bem como um dos documentos mais surpreendentes e controversos descobertos em Qumran, o fragmento chamado 11QMelchizedek, relaciona vários temas da escatologia bíblica com a figura bíblica de Melquisedeque, e a característica mais marcante de Melquisedeque aqui é que ele não é um ser humano comum e mortal. Ele é descrito como uma figura celestial exaltada, e seu caráter transcendente é óbvio; além disso, várias passagens bíblicas, cujo assunto original é Deus, estão relacionadas aqui a Melquisedeque.
Todo o texto do 11QMelchizedek apresenta um cenário escatológico do julgamento que virá. Os temas escatológicos aqui incluem: a libertação de Israel do cativeiro; o retorno de Israel à Terra; uma expiação final pelos pecados de Israel; o julgamento de seus captores; uma proclamação de paz a Israel; e a inauguração do reinado de Deus. Melquisedeque é dado aqui um papel central na salvação escatológica dos justos e julgamento dos ímpios. Na conclusão do nono Jubileu, na primeira semana do décimo Jubileu, no Dia da Expiação, a expiação será feita para “todos os filhos da luz e os homens de propriedade de Melquisedeque”.[2] Nesse momento, Melquisedeque também executará julgamento sobre Belial e sobre os espíritos de sua propriedade. Melquisedeque aqui é apresentado como o instrumento do juízo escatológico de Deus e o Salvador escatológico dos justos. Como instrumento de Deus, ele julgará no Dia da Expiação no momento do julgamento final de Deus, quando Belial e os espíritos de sua propriedade serão derrotados.
“Melquisedeque realizará a vingança dos juízos de Deus [neste dia e serão] libertados [da mão de] Belial e das mãos de todos os espíritos [de sua propriedade]”.[3]
Assim, a figura Qumrânica de Melquisedeque é uma imagem sobre humana, transcendente, sendo revelada e manifestada no Dia do Juízo Final. Nesse sentido, encontramos aqui o mesmo padrão do “Salvador Transcendente”, como o que vimos em 1 Enoque. 11QMelchizedek provavelmente data do final da segunda metade do século II AC, e, portanto, este texto, bem como alguns outros textos de Qumran, são definitivamente relevantes para a nossa busca.
A questão principal
Quando os Cristãos crentes observam o Antigo Testamento através das narrativas dos Evangelhos, veem muitas profecias Messiânicas cumpridas em Jesus. No entanto, como Alfred Edersheim escreveu: “É a combinação de letras que constituem palavras, e as mesmas letras podem ser combinadas em diferentes palavras”.[4] O Judaísmo e o Cristianismo podem ler as mesmas profecias, mas elas estariam combinadas em diferentes palavras para eles.
Agora podemos confrontar nossa questão principal: por que Jesus chamou a Si mesmo Filho do Homem e não Messias? Minha resposta é muito simples: Ele chamou a Si mesmo Filho do Homem precisamente porque Ele veio como Filho do Homem. Ele não veio para se adequar à expectativa Judaica do Messias. Vocês provavelmente sabem que muitas expectativas messiânicas que Israel teve para o seu Messias não foram cumpridas durante a primeira vinda de Jesus, porque Ele não era ‘o Messias’ da concepção Judaica. Ele era, no entanto, “Filho do Homem” da concepção Judaica: Ele veio como um Filho do Homem transcendental, eterno e universal, e “nenhum termo foi mais adequado tanto para ocultar, mas, ao mesmo tempo revelar para aqueles que tinham ouvidos para ouvir, a verdadeira identidade do Filho do Homem”.[5]
[1] Leo Baeck, Judaism and Christianity: Essays, Philadelphia, Jewish Publication Society of America, 1958 , 28-29
[2] 11QMelchizedek, 2.8
[3] 11QMelchizedek, 2.13
[4] Alfred Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah (Hendrickson publishers, 1994),
- 113.
[5] Matthew Black, The Son of Man in the teaching of Jesus, Expository Times, lx, pp.32
Se sua opinião é a que prevalece não deveria pedir opinião, dei meu parecer por duas vezes e não foi levado em consideração, eu creio que vocês estão certo em muitas coisas pois creio que muitos de vocês vivem no território de Israel, porém há pessoas em todo mundo que se dedica em conhecer não só a história de Israel, quanto a geografia, suas características, peculiaridades, modos de vida, sou capaz de dizer que em muitos casos há que saiba muito sobre Israel que vocês jamais tiveram curiosidade de aprender, por exemplo: Nós estudamos e sabemos a razão, os motivos por que Israel foi levado cativo para a Babilônia no período de Nabucodonozor, e porque Deus não interferiu sendo Ele o todo Poderoso, aliás pelo contrario foi por Ele que Israel foi levado ao cativeiro e determinado 70 anos vivendo no cativeiro.
No post anterior seu sobre este tema, eu lhe mandei uma mensagem demonstrando que o Senhor Jesus chamou a si mesmo, sim, de messias, conforme citação abaixo:
João 4:25 – A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
João 4:26 – Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.
Você ignorou minha ponderação. Ante tal silêncio, acho de bom tom não receber mais mensagens sua, rogando, na oportunidade, que não mais as envie.
Grato
Joel
Servo do Deus Vivo