“20 Ora, entre os que subiram para adorar durante a festa havia alguns Gregos. 21 Então estes vieram a Filipe, que era de Betsaida, na Galiléia, e pediram-lhe: “Senhor, queremos ver Jesus.” 22 Filipe foi dizer isso a André, André e Filipe foram falar com Jesus. 23 E Jesus lhes respondeu: “Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado”.
Há duas palavras na língua Grega que poderiam ser traduzidas como Gregos – Hellenistoi e Hellenes. Ambas se referem à filiação Grega. João usa aqui a última palavra. A diferença entre as palavras é geralmente entendida como o seguinte: Hellenistoi é usada para o povo que se comportava como Grego, como os Judeus de língua Grega (Judeus Helenizados), enquanto a segunda palavra refere-se à etnia Grega (neste caso, provavelmente, os Gregos tementes a Deus que encontramos no livro de Atos). No entanto, no Evangelho de João, somos confrontados com um dilema interessante. João não parece usar hoi Ioudaioi (geralmente traduzido como os Judeus) como os outros usam. Ele tem o seu próprio uso, que é particular a seu Evangelho, em função de seu público e situação serem únicos. (O uso de hoi Ioudaioi significava algo para o seu público que não significava para os outros).
Pensando na mesma linha é inteiramente possível que João também tenha o seu próprio uso para Hellenes. Considerando que os outros usam o termo Hellenes para a etnia Grega, João pode usá-lo de uma maneira diferente. Mas isso, claro, é apenas uma possibilidade. O ônus da prova está sobre aqueles que gostariam de argumentar que estes eram Judeus Helenizados e não Gregos tementes a Deus. No entanto devemos pensar em ambas as possibilidades sendo a primeira ainda a mais provável.
Se estiver em consideração ou Judeus Helenizados ou Gregos tementes a Deus (versão provável), que buscavam o líder religioso Judeu para uma reunião, os seguidores de Jesus tinham chegado ao ponto mais distante da influência Judaica! (Se olharmos para o guarda-chuva Israelita dos vários movimentos Judaicos, os Gentios tementes a Deus que não tinham sido totalmente unidos a comunidade Judaica, mas que se afiliaram de muitas maneiras, são vistos ocupando o ponto mais distante da influência comunitária Judaica). Agora que Jesus tem seguidores não só na Judéia, Galiléia, Samaria, mas também na Diáspora, ele declara que o tempo para o Filho do Homem ser glorificado finalmente chegou (algo que antes ele negou várias vezes).
“24 Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto 25 Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem odeia a sua vida neste mundo a conservará para a vida eterna 26 Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará o meu servo também. Se alguém me serve, meu Pai o honrará”.
O que é muito intrigante aqui é que o Evangelho não nos diz se Jesus realmente se encontrou com os Gregos. Em vez disso, o autor mudou sua ênfase para as palavras de Jesus, onde ele falou da chegada de sua morte e sacrifício. É provável que os Gregos foram convidados, e o que vem nos versos seguintes pode constituir um resumo dessa conversa. A lição de Jesus é simples. A menos que ele morresse, o seu ministério não iria dar muito fruto. Aqueles que santificam o nome de Deus também podem ser obrigados a morrer com ele, mas seu Pai os honrará.
“Agora a minha alma está perturbada. E o que eu vou dizer? Pai, salva-me desta hora? Pois foi para passar por esta hora que eu vim. 28 Pai, glorifica o teu nome”.
As palavras de Jesus falam profundamente de sua plena humanidade. Não é natural para um ser humano querer sofrer e morrer. Jesus, compreendendo o propósito de sua missão, está disposto a cumpri-lo.
Então veio uma voz do céu: “Eu tenho o glorificado, e o glorificarei de novo.” 29 A multidão que estava lá e ouviu a voz disse que era um trovão. Outros diziam: “Um anjo falou com ele.” 30 Jesus respondeu: “Esta voz veio por causa de vocês, não por minha causa.”
A ligação entre a voz de Deus e o trovão é importante aqui. Lemos em Ex.19 :16-19 : ” 16 Na manhã do terceiro dia, houve trovões e relâmpagos, e apareceu uma espessa nuvem sobre a montanha e ouviu-se um toque de trombeta muito alto, de modo que todas as pessoas no acampamento tremeram 17 Então Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus, e eles tomaram posição ao pé da montanha. 18 Agora o Monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio do fogo. A fumaça subia como a fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. 19 E como o som da trombeta ficava mais alto e mais alto, Moisés falou, e Deus lhe respondia no trovão. ” A voz de Deus falando da glorificação de Jesus é, portanto, definida no mesmo contexto glorioso.
“31 Agora é o juízo deste mundo; agora o príncipe deste mundo será expulso”.
Como discutido na seção anterior, embora seja tradicional supor que o príncipe deste mundo seja Satanás, o inimigo dos propósitos de Deus nesta terra, também é possível (embora esta seja apenas uma possibilidade) que em seu lugar, na verdade, estivesse um líder do mal particular dos hoi Ioudaioi.
A comunidade de Qumran fala de um sacerdote perverso como uma figura imponente do mal no imaginário Qumrânico. Ao mesmo tempo, não se pode simplesmente tirar conclusões rápidas, justifica-se, no entanto, estudar da possibilidade da existencia de uma tal figura. Vale ressaltar que todos os casos conhecidos de perseguição contra Jesus e contra os crentes em Jesus de Jerusalém, especialmente seus líderes, “foram feitas quando o sumo sacerdote reinante era pertencente à poderosa família Anás dos Saduceus.” Caifás, genro de Anás condenou Jesus e Estevão. Tiago, filho de Zebedeu, foi executado e Pedro foi preso por Agripa I, enquanto Matthias, filho de Anás, era provavelmente, um sacerdote.
Em Atos 12:3 lemos que o rei estava motivado a ganhar o favor com “os Judeus”, ou seja, para “aplacar o sumo sacerdote Mathias e sua família”, já que algum tempo antes Agripa havia humilhado a família de Anás por depor Teófilo, irmão de Mathias. Outro filho de Anás, Anás II, mandou matar Tiago tirando vantagem de ser imperador Romano, antes da nomeação do próximo líder do Império. O descrito acima revela que se justifica falar de um caso de vingança familiar contra, ” os seguidores de um homem cujo movimento Caifás (como um membro da família sacerdotal Anás) tinha esperado interromper, mas não conseguiu erradicar”. [1]
“32 E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. 33 Ele disse isso para indicar o tipo de morte que ele ia morrer”.
Ficou claro para Jesus que ele seria crucificado e que seria levantado na cruz Romana para os criminosos. Quando esta morte / semeadura da semente acontecesse, produziria muitos frutos e todos os homens (Israel no sentido mais próximo, embora não somente) seriam atraídos para ele.
[1] Ver Bauckham, R. 2007. James and the Jerusalem Community. In Jewish Believers in Jesus: The Early Centuries. Edited by O. Skarsaune and R. Hvalvik. Peabody: Hendrickson Publishers, 75.
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