Shavuot

 

Shavuot na Torá

1A partir do dia seguinte ao Sábado, o dia em que vocês trarão o feixe da oferta ritualmente movida, contem sete semanas completas. 16 Contem cinquenta dias, até um dia depois do sétimo Sábado, e então apresentem uma oferta de cereal novo ao Senhor. [1]

Este é o nosso principal texto da Escritura para datar o Shavuot –a Festa das Semanas–, uma das três festas Bíblicas de peregrinação. A Torá não fornece uma data específica para este Festival, ligando sua data diretamente à da Páscoa. A palavra Shavuot significa “semanas”, e o festival de Shavuot marca a conclusão da contagem do período de sete semanas entre a Páscoa e o Shavuot. Como vocês acabaram de ler, a Torá prescreve a contagem de sete semanas “após o Shabbath”; já que os versículos anteriores neste capítulo de Levítico falam das festas de Pesach: a Páscoa, Pães Ázimos e Primeiros Frutos, entendemos que a contagem parte de algum Shabbath durante a Páscoa. Contudo, nenhuma especificação exata é dada a respeito de qual Shabbath se refere –portanto interpretações diferentes e consequentemente datas diferentes para o Shavuot foram sugeridas e celebradas ao longo da história–. “Enquanto o livro de Josué (5:11) sugere que a prática mais antiga interpretou o mimacharat hashabbat como se referindo ao ‘amanhã’ do primeiro dia de Pesach, um uso confirmado pela Septuaginta, Josefo e Filo”. [2] Os diferentes grupos do período do Segundo Templo o entenderam de maneira diferente: por exemplo, “a comunidade de Qumran entendeu a alusão ao primeiro Shabbath depois do Pesach”.[3]

A Bíblia também diz: “conte cinqüenta dias“, razão pela qual, no Novo Testamento, o nome para o feriado é normalmente traduzido como “Pentecostes”. Você sabia que Shavuot e Pentecostes são dois nomes diferentes para o mesmo Festival? Além disso, encontramos na Escritura outros nomes para esta festa. Por exemplo, em Êxodo 23:16, quando o Senhor está falando de três festas anuais, Ele chama Shavuot Chag HaKatzir, Festa da Colheita.

Hoje, o Shavuot é realizado no dia 6 de Sivan, cinquenta dias após o segundo dia da Páscoa. É uma das três maiores festas anuais no calendário Bíblico. O que o Shavuot comemora na tradição Judaica?

 

O entendimento tradicional Judaico

Na tradição Judaica, o Shavuot veio a ser entendido como uma comemoração da entrega da Torá a Moshe. Por quê? Em Êxodo 19:1 lemos que os Israelitas chegaram ao pé do monte Sinai “no terceiro mês“. O terceiro mês depois do Êxodo é Sivan; uma vez que este também foi o mês de Shavuot, os rabinos deduziram que Deus entregou a Torá no Shavuot. Assim, o  Shavuot foi associado com a entrega da Torá. As primeiras referências a esta reinterpretação datam dos 2 º e 3 º séculos EC. Gradualmente, na tradição Judaica ele se tornou מתן תורה     חג o Festival da Entrega da Torá. A palavra Shavuot שבועות fornece provas adicionais, já que também pode ser lida como “juramentos”: naquele dia, Deus jurou fidelidade eterna a Israel, e Israel tornou-se o povo de Deus.

Por isso agora é amplamente aceito que a Torá foi dada por Deus ao povo Judeu em Shavuot. Neste sentido, todos os anos no feriado de Shavuot o povo Judeu se vê  renovando esta experiência –renovando a nossa aceitação da Torá–. Assim, cada Festival no calendário Judaico está associado a um grande evento histórico e um tema religioso maior. “Pesach, celebrando o Êxodo do Egito, tem criação como tema, a criação do povo Judeu. O tema de Shavuot é revelação; e o tema de Succot, associado aos quarenta anos de vaguear culminado pela entrada na Terra Prometida, é redenção”.[4] Estes três temas principais –criação, revelação e redenção– são muito importantes e presentes em diferentes aspectos da vida Judaica, mas eles são mais evidentes nos três Festivais Bíblicos.


Megilat Ruth

Como vocês poderiam supor, as leituras da sinagoga para este feriado incluem Êxodo 19-20: a subida do Monte Sinai por Moshe e os Dez Mandamentos. No entanto, há uma leitura especial adicional para o Shavuot: o livro de Ruth, Megillat Ruth, também é lido neste Festival. Por quê? A primeira e tradicional explicação é porque a história de Rute é a história de uma colheita. Mas eu realmente acredito que há mais que isso, e que a escolha deste livro para o Shavuot foi absolutamente profética

Basta pensar nisso: O Festival de Shavuot é descrito na Torá de uma maneira muito prosaica, muito terrena, como Chag HaKatzir, Festa da Colheita. No entanto, tornou-se o Dia em que o Céu foi aberto e a realidade física e visível foi transformada ao Seu toque. Isso aconteceu na Torá e no Novo Testamento, no Monte Sinai e em Jerusalém –em ambos os dias–, a realidade de Deus brilhou através das circunstâncias terrenas, mundanas e visíveis. A realidade celestial encheu a Terra, e a história que parecia terrena e mundana, tornou-se preenchida pelo Céu.

Agora, há muitas coisas que poderíamos dizer sobre o livro de Rute. Mas para mim, pessoalmente, uma das coisas mais surpreendentes deste livro é esta lacuna aparentemente enorme entre o mundano e o celestial: para o Shavuot, para o ‘Dia do Céu Aberto’, lemos esta história com colheita, e limiar, e muitos outros detalhes técnicos. No entanto, à medida que essa história se desenrola, a lacuna começa a desaparecer: como num rolo de filme duplamente exposto com as imagens sobrepostas, começamos a ver a realidade de Deus começando a se mostrar através das circunstâncias visíveis prosaicas. Mais uma vez, a história que parecia terrena e mundana, se torna preenchida pelo Céu –e neste sentido–, o livro de Rute é uma combinação perfeita para a leitura de Shavuot.

 

Na próxima vez, vamos discutir Atos 2 –Shavuot no Novo Testamento–e também  vamos falar mais sobre o Livro de Ruth.

[1] Levítico 23:15

[2] Hillary Le Cornu, Joseph Shulam, The Jewish Roots of Acts, Netivyah Bible Instructions Ministry, 2003, p.55

[3] Ibid, p. 56

[4] David H. Stern, Jewish New Testament Commentary, Jewish New Testament Publications, 1995 – p. 219

About the author

Julia BlumJulia is a teacher and an author of several books on biblical topics. She teaches two biblical courses at the Israel Institute of Biblical Studies, “Discovering the Hebrew Bible” and “Jewish Background of the New Testament”, and writes Hebrew insights for these courses.

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