O vírus Corona mudou os planos de milhões —e este blog, é claro, não tem estado isento dessa influência infeliz—. Originalmente, eu planejava ter minha série «Começos» desde o início de 2020 até a Páscoa —mas como vocês sabem, não foi isso que aconteceu—. Este artigo retoma esta série; e estou lembrando que estamos agora em Gênesis 3 e estamos lidando com as consequências da queda. É uma tarefa desafiadora escrever sobre este capítulo —Gênesis 3 é uma das histórias mais conhecidas do mundo—. Mas será que ainda perdemos alguma coisa aqui?
Quem foi amaldiçoado?
Antes de tudo, vamos falar sobre as maldições e os castigos. De alguma forma, as pessoas costumam pensar que todos foram amaldiçoados nesta história. No entanto, quando lemos atentamente o texto, vemos que esse não foi o caso. A maldição não estava sobre os humanos. Adám nunca foi amaldiçoado. Eva também não foi amaldiçoada —ela foi punida, como Adám—; ele foi punido por ter que trabalhar no chão amaldiçoado —porque o chão, o solo, foi amaldiçoado de fato—. Mencionamos isso anteriormente quando falamos sobre a palabra adám: a conexão etimológica entre «homem» e «chão» é muito evidente em Hebraico, mesmo que não se possa realmente ver isso em Português. Em Hebraico, quando vocês dizem Adám, quase ouvem a palavra adamá neste nome: eles correspondem e se correlacionam entre si, como fazem os substantivos masculino e feminino em Hebraico. E aqui em Gênesis 3, vemos outra prova poderosa dessa conexão: quando Deus pune Adám, é adamá que é amaldiçoado. Provavelmente essa maldição foi sentida com tanta força pelas primeiras gerações dos descendentes de Adám que todo mundo estava desejando que ela fosse removida; ouvimos isso muito claramente nas palavras proféticas do pai de Noé, Lameque, quando ele escolhe um nome para seu filho. Evidentemente, Lameque sentiu o fardo do trabalho sobre uma terra que Deus havia amaldiçoado e considerou seu filho como aquele que deveria se libertar da maldição —como alguém que deveria proporcionar conforto e descanso—. «Pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: “Este nos consolará dos nossos trabalhos, e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou”».[1] Falaremos mais sobre isso quando chegarmos a esses capítulos.
Além de adamá, a única que recebeu a maldição foi a serpente, a cobra. O SENHOR pronunciou uma maldição permanente sobre a serpente: «Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos, e o és entre todos os animais selváticos: rastejarás sobre o teu ventre, e comerás pó todos os dias da tua vida».[2] É importante saber que a Bíblia Hebraica não identifica a serpente com Satanás. Não foi até o documento Judaico do final do primeiro século —o livro do Apocalipse— que a «serpente» foi claramente identificada com o Satanás: «a antiga serpente que é o diabo, Satanás».[3]
Transferindo a culpa
Sabemos que, ao responder à pergunta de Deus, Adám aponta o dedo para a esposa: ela é a culpada. Quando Deus questiona Eva, Ele recebe uma resposta semelhante dela: a serpente era a culpada. Depois disso, o SENHOR pronuncia seu castigo —mas foi apenas por comer o fruto que Adám e Eva foram punidos?—.
É claro que todos estamos cientes desse jogo de transferência de culpa em Gênesis 3 e do fato de que Deus não gostou disso. No entanto, ninguém vê nele um problema tão crucial quanto sua desobediência ao mandamento de Deus. E, ainda, as Escrituras nos dão razões para acreditar que esse foi realmente um pecado muito grave aos olhos de Deus —que o castigo subsequente de Deus não foi apenas pela desobediência, mas também pela transferência da culpa—. Como sabemos disso?
Vocês já se perguntaram por que a linhagem monárquica de Davi veio da tribo de Judá? – por que esse filho de Jacó em particular foi homenageado com esse incrível privilégio? Encontramos uma resposta em Gênesis 38, na história de Tamar: aqui Judá se torna a primeira pessoa na Bíblia a assumir a responsabilidade por seus próprios atos e se arrepender. Ao contrário de Adám, que disse: «ela é a culpada», Judá disse: «Eu sou o culpado».
«Mais justa é ela do que eu».[4] Judá é a primeira pessoa no livro de Gênesis —e, portanto, toda a Bíblia— a confessar seu pecado, assumir a responsabilidade por ele e mudar seu comportamento: ele se arrepende. Eu acredito que esta é a razão pela qual Deus abençoa a tribo de Judá com um privilégio tão incrível. Até o nome Yehudá (Judá) vem do verbo lehodót, que significa não apenas «agradecer» (como provavelmente muitos de meus leitores sabem), mas também «admitir, confessar». (Por exemplo, o nome de uma oração de confissão, Vidúi, vem dessa raiz.) E uma vez que entendemos o quão importante aos olhos de Deus é a confissão, também entenderemos que pecado terrível foi esse jogo de transferência da culpa em Gênesis 3.
Roupas de pele em vez de roupas de luz
Lemos em Gênesis 3 que, antes de Deus expulsar Adám e Eva do jardim, Ele lhes fez roupas de pele. Alguns comentaristas Judeus dizem que antes de Adám e Javá (Eva) pecarem, seus corpos eram revestidos de luz e que, como resultado de seu pecado, as vestes da luz foram substituídas por vestes da pele. O texto suporta essa ideia?
Se vocês lerem isto em Hebraico, fica claro por que os sábios Judeus disseram isso. A palavra Hebraica para «pele» é ÓR (עוֹר): «áyin váv résh». A palavra Hebraica para «luz» também é ÓR (אור), mas está escrita com «álef váv résh». Originalmente, Deus vestiu Adám e sua esposa com as roupas de luz celestial. Por que eles as perderam?
Esta é uma das características surpreendentes do Hebraico: as mensagens profundas de suas letras não devem ser perdidas. As palavras Hebraicas para «luz» e «pele» diferem em apenas uma letra: álef para «luz» e áyin para «pele». O valor numérico de álef é 1, de áyin é 70. A diferença entre eles é 69, representada pelas letras Hebraicas sámej (ס) e tét (ט). A raiz da palavra sámej significa «apoiar-se», «sustentar». A imagem gráfica para tet parece uma cobra. Ao se apoiar na cobra, Adám e Eva perderam suas vestes de luz (אור) e tiveram que ser vestidos com roupas de pele.
[1] Gênesis 5:29.
[2] Gênesis 3:14.
[3] Apocalipse 20:2.
[4] Gênesis 38:26.
Trechos dos meus livros «Biblical Portraits: Judah» e «Unlocking the Scriptures» estão incluídos neste post. Se vocês gostam dos artigos deste blog, podem também gostar dos livros, podem obtê-los na minha página na Amazon:
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Além disso, eu gostaria de lembrá-los, que se estes artigos despertarem seu interesse por descobrir os tesouros escondidos da Bíblia Hebraica, ou estudar em profundidade a Parashát Shavúa, junto com as perspectivas do Novo Testamento, eu ficaria feliz em fornecer mais informações (e também um desconto de professor para os novos alunos) em relação aos cursos da eTeacher (juliab@eteachergroup.com).
Do you think man’s working the cursed ground as punishment will ultimately lift the curse (as it appears to have in Israel)?
Thank you for your article. It explains the Jewish view on the change of garments after the fall. It also raised a question in my mind. You said that in Jewish thought the Serpent was not Satan. Can you comment on what the Serpent was? It seems to me that if the serpent was cursed to crawl on its belly and eat dust all the days of its life, that before it deceived Eve it did not crawl on its belly and eat dust. Also, if it was not Satan was it a particular being (animal, or something else) destined to this curse only until it died?
Julia, great insights, they blessed me. Do you think the Tree of the Knowledge of Good and Evil had positive use before the fall? Do you think it became the Law after the fall due to the hardness of man’s heart?
Thanks Julia. I’ve read your latest book “Biblical Portraits :Judah” and have given it a 5 Star rating. I also wish to thank you for this Blog .I have read books by two different authors who claim that God killed animals to make coats for Adam and Eve .They think God was teaching that they needed blood to pay for their sins . I can not and will not believe that ! None of the Bibles I have say anything about coats of animal skins . I can always count on you to help me understand. You are an answer to my prayer about this . Another thing that I often think about is the “Blame Game” that is in this chapter. Adam not only blamed Eve ,he blamed God as well when he said ” that woman you have me ! One thing I wish to ask men when they blame women for the fall of mankind is this ; where was Adam when Eve was being tempted ? Remember that God never told Eve not to eat of the tree. God told Adam not to eat of that tree before Eve was even created . May God keep all of you safe!
There is no remission of sin without the shedding of blood” (Heb 9:19 – 22), so it is not a surprise the an animal was killed.
It is easy too easy to shift the blame onto “the woman thous gavest me”. Adam was right there: she gave, he ate. But he was not there as a leader, as a host, as someone who had been in the garden longer. For that reason the sin is accounted to Adam, and not Eve. Passivity is part of the original sin most men struggle with; we will make peace at any price. (Eve’s sin in this view, is moving in an impetuousness that usurped Adam’s role as Host. She took his authority, after all he wasn’t using it. Adam let her because he had an interest in the “beautiful” tree, but was too cowardly — or passive to pursue it.)
In verses 22-24, God is discussing the man, and drives the man out of the garden. Why didn’t He drive Eve out?
“Man” here refers to mankind; they were both driven out.
Hi Cheryel, the Hebrew word “adam” in Genesis 3:24 means “human” – and therefore, the verse means that both humans, Adam and Eve, were driven out from the Garden.
Julia, as usual, this is an excellent teaching.
Thank you so much for your kind words Marcia!
Thank you Julia for these insights. I have been taught of them in our church so it is wonderful that you are “Speaking the same mysteries.” The follow up of course is Cain and Abel. Why did God accept the animal burnt offering and not the fruit of the ground offering? Is it not also to do with the shedding of blood for sin? How wonderful and intriguing is the Wotd of God. God never leaves us with out an answer. Love your blog. Shalom