De Jerusalém A Roma: Paulo E O Judaísmo

A terceira refeição e o encontro de Paulo em Trôade

Meus queridos leitores, juntos continuamos a percorrer o livro de Atos. Atos 20 descreve um incidente dramático em Trôade. Quando os crentes locais se reuniram para partir o pão, Paulo começou a falar com eles, e as Escrituras nos dizem que ele «prolongou sua mensagem até a meia-noite».Este encontro durou tanto que um jovem sentado no parapeito da janela caiu em sono profundo e «caiu do terceiro andar». Então aconteceu o milagre: Paulo o pegou e o ressuscitou: «Mas Paulo desceu, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: “Não vos perturbeis, que a vida nele está”». Esse milagre foi incrível e todos ficaram emocionados: «sentiram-se grandemente confortados», mas por que este encontro demorou tanto para começar? Que tipo de reunião foi?

A descrição deste encontro começa com as palavras: «No primeiro dia da semana». Literalmente, a frase original Grega en de te mia ton sabaton significa «no primeiro do shabát». Há apenas uma noite que é considerada yóm rishón —primeiro dia— no calendário Judaico: a noite após o dia de shabát —sábado à noite—. A noite seguinte já seria yóm shení —o segundo dia— pois os Judeus contam seus dias a partir da noite anterior.

A descrição continua: «quando os discípulos se reuniram para partir o pão». Se eles se reuniam no sábado à noite, este «partir o pão» era de fato a terceira e última refeição do shabát, chamada melavé malká —«acompanhando a rainha». De acordo com a tradição Judaica, esta refeição muitas vezes continua até tarde da noite: Paulo, pronto para partir no dia seguinte, falou com eles e continuou sua mensagem até meia-noite. As orações antes e as discussões durante a refeição geralmente estão relacionadas com a vinda do Messias. Às vezes, a reunião durava até de manhã.

Ainda hoje, algumas igrejas ainda celebram a Eucaristia no sábado à noite. Este costume é baseado em uma antiga tradição que teria se originado na Era Apostólica: os primeiros Crentes Judeus celebravam juntos o melavé malká e então provavelmente observavam a havdalá —o fim do shabát— com a ceia do Senhor. Nesse sentido, esta história pode ser um grande testemunho dos costumes Judaicos dos apóstolos Judeus.

 O episódio significativo

Em Atos 18, vimos Paulo fazendo um voto. Mais tarde, em Atos 21, vemos outra cena, envolvendo tanto Paulo quanto o voto de Nazireu. Em Atos 21, 21-26, Lucas registra um dos episódios mais fascinantes de seu livro: vemos o Apóstolo Paulo oferecendo um sacrifício no templo e passando por uma purificação cerimonial por sete dias. O pano de fundo deste episódio é o término de um voto de Nazireu pelos quatro homens, raspando suas cabeças e oferecendo sacrifícios e neste caso, Paulo foi convidado a pagar os custos! Por quê? E por que ele passou pela purificação? Qual é a mensagem desta história?

Nos versículos anteriores, aprendemos que por causa dos rumores da «apostasia» de Paulo, Tiago, um dos principais líderes da comunidade Messiânica de Jerusalém, estava preocupado com um confronto potencial entre Paulo e os Judeus Messiânicos de Jerusalém. A fim de mostrar a fidelidade de Paulo à Torá, ele sugere que Paulo pague pelos sacrifícios exigidos destes quatro homens. Este passo prático significava muito mais do que dinheiro e tinha implicações teológicas óbvias: significaria que Paulo ainda estava seguindo a Torá.

Este episódio sempre foi «obscuro» e «problemático» para os comentaristas Cristãos: Por que Paulo, «o Cristão exemplar», se juntou ao ato real de purificação ritual Judaica? No entanto, uma vez que Paulo concordou em fazer isso, entendemos que ele queria provar sua observância da Torá e esta é precisamente a mensagem desta história.

Um grande professor do aluno maravilhoso

Em Atos 22, dirigindo-se à multidão enfurecida em Jerusalém, Saulo de Tarso (Apóstolo Paulo), abre seu discurso de defesa. Evidentemente, ele precisa dizer algo tão importante, tão essencial, que afetaria e impressionaria toda a multidão. O que ele diz? «Sou Judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas educado nesta cidade aos pés de Gamaliel». Parece que a afirmação: «educado nesta cidade aos pés de Gamaliel», foi de fato uma credencial poderosa para o povo de Israel. Quem era esse Gamaliel?

Gamaliel, o Velho, ou Rabbán Gamaliel I, foi o Rabino mais distinto de seu tempo e uma das principais autoridades do Sinédrio. Ele foi o primeiro a carregar o título Rabbán, em vez do título mais comum «Rabino». A Mishná fala de Gamaliel como um dos maiores professores em todos os anais do Judaísmo: «Desde que Rabban Gamaliel, o Velho, morreu, não houve mais reverência pela lei, e pureza e piedade morreram ao mesmo tempo».

Gamaliel era neto do grande professor Judeu, Hillel, o Velho, e o líder de sua escola, Béit Hillél. Toda esta escola —e Gamaliel em particular— se destacou por uma atitude mais tolerante e liberal nas normas jurídicas religiosas. Vemos isso claramente em Atos: quando alguns líderes Judeus queriam matar Jesus, Gamaliel lhes disse:«Afastem-se desses homens e deixai-os; pois se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas se é de Deus, não podereis destruí-los, para que  não sejais achados lutando contra Deus».[1]

Havia muitos rabinos e mestres no tempo de Jesus, mas foi Gamaliel quem primeiro foi chamado de Rabbán, em vez de «Rabino». E foi Gamaliel quem criou um aluno tão proeminente e deu ao mundo o apóstolo Paulo. Gamaliel é um nome Hebraico que significa «Deus é minha recompensa» ou «recompensa de Deus». Rabbán Gamaliel via seu maravilhoso aluno como sua verdadeira «recompensa de Deus»?

 

 

 

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[1] Atos 5:38,39.

About the author

Julia BlumJulia is a teacher and an author of several books on biblical topics. She teaches two biblical courses at the Israel Institute of Biblical Studies, “Discovering the Hebrew Bible” and “Jewish Background of the New Testament”, and writes Hebrew insights for these courses.

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