Shabbát Shekalím
Queridos amigos, uma vez que já pausamos nossa série de Atos, decidi estender esta pausa para dar uma olhada nas porções atuais da Torá. Há várias razões para isso: Primeiro, os capítulos que estamos lendo agora discutem a construção do tabernáculo, e a importância do tabernáculo nas Escrituras fica clara pela comparação observada tanto por comentaristas Judeus e Cristãos: pouco mais de um capítulo foi necessário para descrever como Deus criou o mundo, mas seis capítulos descrevem a construção do tabernáculo. Em segundo lugar, eu nunca comentei sobre estas porções da Torá neste blog e, nesse sentido, é uma boa e nova oportunidade para lermos estes capítulos juntos. Por fim, o motivo que foi decisivo para mim foi sobre o Shabatót especiais: já que estamos nos aproximando do feriado de Purím, teremos dois Shabbatót especiais dentro de três semanas, e aproveitarei esta oportunidade para explicar o que são esses Shabbatót especiais, pois duvido que muitos de meus leitores tenham conhecimento sobre eles.
O Shabatót especiais, são dias de Shabbát em que são observados ou comemorados eventos especiais. Cada Shabbát especial é referido por um nome especial. Por exemplo, o Shabbát Mevarjím precede um novo mês e pode ocorrer várias vezes durante o ano. Este próximo Shabbát, 26 de fevereiro, é o Shabbát Mevarjím, pois este é o último Shabbát antes do início de um novo mês. No entanto, como este é um mês especial, Adár, o mês de Purím, o Shabbát anterior tem um nome especial: Shabbát Shekalím (Shabbát [de] shekels» שבת שקלים).
Shabbát Shekalím ocorre no Shabbát antes do dia 1º do mês Hebraico de Adár (ou no dia 1 de Adár sim é Shabbát). Em anos bissextos no calendário Hebraico, quando há dois meses de Adár, Shabbát Shekalím é observado no Shabbát antes do dia 1º de Adár II, como este ano, Ano Hebraico 5782, começa ao pôr do sol de sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022 e termina ao anoitecer de sábado, 26 de fevereiro de 2022, antes do Rósh Jódesh Adár II.
No Shabbát Shekalím, é lido Êxodo 30:11-16. Esses versículos falam sobre um censo, ou mais especificamente, sobre um resgate que cada adulto deve contribuir durante o censo, meio shekel Bíblico! Vocês podem perguntar como esse pedido é relevante para nossas vidas hoje. Existem várias explicações diferentes, mas a melhor resposta que ouvi até agora foi dada pelo falecido Rabino Lord Jonathan Sacks, que sua memória seja abençoada. Sim, diz ele, é muito perigoso contar os Judeus, contar o povo de Deus, porque isso significaria que acreditamos que a força está nos números. Esta é a razão pela qual os países fazem censos: eles acreditam que sua força está em seus números. No entanto, sabemos que nossa força nunca esteve em nossos números. Como então vocês estimam a força do povo de Deus? A Torá é muito clara: não contem, apenas deixe-os dar e não contem as pessoas, contem a contribuição! Não apenas doações monetárias, é claro, mas a contribuição para a sociedade, para a cultura, para a ciência; a contribuição de tempo ajudando os necessitados etc. Ele estava falando sobre o povo Judeu, mas acho que é sempre verdade aos olhos de Deus: Deus não quer que contemos nossos números; nossa força é expressa em nossas doações e contribuições.
Parashá Vayakhél
Primeiro, porém, lemos a porção da Torá Vayakhél ( Êxodo 35:1-38:20 ). Aqui vemos Moisés reunindo o povo de Israel e lembrando-os do mandamento de observar o Shabbát, e então transmitindo as instruções de Deus sobre a construção do tabernáculo. As pessoas estão dispostas a doar os materiais necessários, e doam tanto que Moisés tem que impedi-los. Em seguida, uma equipe de artesãos, liderada por Bezalél e Aoliabe, faz o mishkán e seus móveis (conforme instruído por Deus nas porções anteriores da Torá).
Na verdade, a partir de Vayakhél, vemos a implementação das instruções de Deus sobre como construir o mishkán (tabernáculo) dadas nas porções anteriores, especialmente na Parashát Terumá. Nesse sentido, muito de Vayakhél é quase uma repetição exata de Terumá, exceto que as palavras «eles farão» são substituídas pelas palavras «eles fizeram». À primeira vista, não nos surpreende: Ok, em Terumá Deus mostra a Moisés como construir o Tabernáculo e então em Vayakhél Moisés, junto com todo o povo de Israel, de fato o constrói. No entanto, se nos lembrarmos do que aconteceu entre essas porções, ficaríamos surpresos com o que vemos em Vayakhél. Entre essas duas porções, existe uma porção chamada Kí Tisá, onde acontece a história do bezerro de ouro. Uma história muito brutal: a completa falta de fé, a grande quebra de confiança, aconteceu lá, apenas alguns capítulos (e quarenta dias) antes. Então, como podemos explicar que agora, apenas alguns capítulos depois, vemos o povo de Israel se aglomerando diante de Moisés e trazendo doações excessivamente generosas? O Hebraico aqui é muito expressivo ao descrever a ânsia do povo em doar. Ao invés de há-anashím vé-ha-nashím («homens e mulheres»), o Hebraico diz: há-anashím -ál-ha-nashím: Em alguns Midrashím, a palavra ál é entendida como a expressão Inglesa «estar em cima um do outro»: «“vieram homens e mulheres”; isto é, em sua ânsia, eles pressionaram um contra o outro. Os homens e mulheres vieram como uma grande multidão quando trouxeram seus presentes…».[1]
Estas são as mesmas pessoas que recentemente expressaram uma terrível falta de fé, com quem Deus estava tão zangado, a quem ele chamou de dura cerviz, mas agora eles parecem estar completamente renovados; agora seus corações são suaves, abertos e ternos; agora eles querem doar e sacrificar. Agora, ao que parece, eles sabem a diferença entre um mishkán e um bezerro de ouro; eles sabem a diferença entre Deus e um ídolo; eles sabem a diferença entre o céu e a terra. O que aconteceu? O que havia mudado seus corações?
Da próxima vez, tentaremos responder a esta pergunta e acredito que tocaremos aqui em um dos maiores mistérios de Israel. Fiquem ligados!
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