Sei que alguns dos meus leitores sorriram com ceticismo para este título: a afirmação de que “o Natal é um feriado pagão” é tão popular hoje em dia que muitas pessoas preferem não ter nada a ver com o Natal —e definitivamente, não esperariam um artigo sobre o Natal no blog de estudos Bíblicos de Israel—. Sim, não há nada para discutir, o Natal é uma festa estabelecida pelos homens —mas o mesmo acontece com o ciclo de leitura da Torah, não é?— E, no entanto, creio que as porções semanais da Torah são divinamente ordenadas e que Deus fala a Seu povo e a cada um de nós pessoalmente, através dessas porções das Escrituras —Parashot Shavua—. Da mesma forma, através deste feriado de Natal humanamente estabelecido, aqueles que têm ouvidos podemouvir a mensagem de Deus —e nós ouviremos muito em breve que incrível combinação da porção da Torah e do Natal temos este ano—. Antes de fazermos isso, no entanto, quero compartilhar alguns outros detalhes interessantes desta porção da Torah —a última no livro de Gênesis—.
DEUS O TORNOU EM BEM
Naturalmente, há muitas coisas que podemos dizer sobre Vayechi (como sobre toda porção da Torah). No entanto, quero salientar algo que foi particularmente encorajador para mim —e espero que seja um incentivo para vocês também—. Perto do final do livro —como um selo sobre a história de José, no livro de Gênesis, e também este ano chegando ao fim— José diz a seus irmãos: “Deus o tornou em bem“. Não são essas palavras incríveis? Tanto na Bíblia como em nossas vidas, Deus sempre realiza o Seu plano através das pessoas: não apenas através das forças e fé das pessoas, mas também através de suas fraquezas e erros. É uma sensação maravilhosa: quando se pode olhar para o ano que está prestes a terminar, ver todos os erros e falhas que cada um de nós fez ou experimentou este ano e confiar que o Senhor pode realizar o Seu bem, mesmo a partir de nossos erros: “Deus o tornou em bem”.
COMO EFRAIM E MANASSÉS
Há um detalhe muito interessante nesta porção que explica um dos costumes Judaicos. Durante todas as celebrações do Shabbat na sexta-feira à noite, os pais Judeus abençoam seus filhos com a bênção sacerdotal. A linha introdutória desta bênção é diferente para meninos e meninas.
Para as meninas, a linha introdutória é:
Que Deus faça você como Sara, Rebeca, Raquel e Lia.
Para os meninos, a linha introdutória é:
Que Deus faça você como Efraim e Manassés.
Por que os pais Judeus abençoam seus filhos com os nomes dos filhos de José? Por que os filhos de José são escolhidos para essa bênção em vez dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó?
Sabemos que José teve dois filhos no Egito. Antes de mais nada, vamos tentar entender o significado Hebraico original de seus nomes. “José chamou o nome do primogênito Manassés”. O nome Manassés (Manasseh) é derivado da raiz Hebraica נָשָׁה —“causar o esquecimento”—. José chamou seu filho Menassés porque ele queria esquecer todo o sofrimento e aflição que passou. “O nome do segundo ele chamou Efraim”. O nome Efraim (Ephraim) é derivado da raiz פָּרָה —“tornar frutífero”—. Evidentemente José foi capaz de esquecer seu sofrimento e seguir em frente – tornar-se frutífero e produtivo na terra estrangeira.
Antes de sua morte, Jacó escolheu seus dois netos para as bênçãos através dos séculos: “abençoou-os naquele dia, dizendo: “Por vós Israel abençoará, dizendo: ‘Deus te faça como Efraim e como Manassés’”. Por quê? Efraim e Manassés são os primeiros irmãos na Torá, cuja relação não é marcada por ciúmes e rivalidade —um testemunho poderoso da paz no coração de José e na casa de José—. Os rabinos Judeus veem uma mensagem poderosa nessa bênção. Esta é a mensagem de Deus para nossos filhos e, de fato, para todos nós: Deus quer que tenhamos paz em nossos corações e paz em nossos lares, e estando sempre sintonizados com o Deus de Israel, não importa quão poderosos e tentadores possam ser os “Egípcios” que nos rodeiam.
PORÇÃO DA TORAH DE NATAL
E agora, finalmente, vou mostrar por que chamei essa Parashah de “Porção da Torah de Natal”. Em Gênesis 49 quando Jacó está prestes a morrer, ele pronuncia bênçãos (ou melhor, palavras proféticas —porque nem todas as suas palavras foram uma bênção—) sobre cada um de seus filhos. Quando ele abençoou Judá, ele proclamou: seus “irmãos o louvariam”. Nós falamos muito sobre Judá nestas páginas —sobre o fato de que—, no final do livro, a história de “José e seus irmãos” se torna a história de “Judá e seus irmãos”. Também falamos sobre a incrível autoridade que vemos em Judá ao longo de toda essa história (a partir do capítulo 37, onde mesmo no meio do terrível crime dos irmãos, a voz de Judá se torna decisiva) —e, portanto—, não ficamos surpresos em ouvir Jacó descrever a autoridade de Judá como dada diretamente por Deus. Mas então ele declarou que Judá seria um leão poderoso e forte para destruir seus inimigos, e também um filhote —a quem imaginaríamos como fraco e indefeso. Como vamos reconciliar essas duas imagens?—
Gostaria de lembrar a vocês uma cena surpreendente do capítulo 5 do Apocalipse, onde João, que está chorando sobre o livro selado, é informado: “Não chores eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”. Ao ouvir isso, ele se vira, esperando ver o Leão vitorioso e, de repente, em vez de um Leão, ele vê um Cordeiro como se tivesse sido morto. Vocês podem imaginar? Vocês estão esperando ver um Leão: forte, poderoso e vitorioso, mas em vez de um Leão, vocês veem um Cordeiro: manso, inocente, indefeso e como se tivesse sido morto. Esta é uma substituição tão incrível que somente Ele mesmo pode confirmar que este Cordeiro foi realmente enviado por Ele —e que é o próprio Leão—. As palavras de Jacó aqui são muito semelhantes —seu significado profético é o mesmo: Judá seria tanto o filhote quanto o leão—.
Comentando estas palavras, Rashi escreve: “Ele profetizou sobre Davi, que a princípio era como um filhote, e no final um leão, quando o fizeram rei sobre eles”. No entanto, há outra sugestão na profecia de Jacó que torna possível que essas palavras alcancem além do Rei Davi:
“O cetro não se afastará de Judá,
nem o bastão de entre seus pés,
até que venha Siló;
E a Ele obedecerão os povos”.
O que é Siló? Ou quem é Siló? Em todo o Tanach (Antigo Testamento) esta palavra ocorre apenas uma vez —aqui, neste verso, e o significado da palavra, bem como a sua origem, não é claro—. Vocês provavelmente conhecem a interpretação Cristã, mas deixe-me compartilhar com vocês o que os comentaristas Judeus escreveram sobre Siló.
Rashi: “[Refere-se] ao Rei Messias, a quem pertence o reino (שֶׁלוֹ), e assim fez Onkelos: [até que o Messias venha, a quem pertence o reino]. De acordo com o Midrash Aggadah, [“Siló” é uma combinação de] שַׁי לוֹ, um presente para ele, como se diz: “eles vão trazer um presente àquele que deve ser temido” (Salmo 76:12).
Vocês podem ver agora porque eu chamei essa Parashah de “Porção da Torah de Natal”? Jacó está profetizando a vinda do Messias, que será tanto um filhote como um leão —e para quem “será a obediência do povo”—. Não é a mensagem do Natal?
Feliz Natal para todos os meus queridos leitores!
Que seus corações e suas casas sejam preenchidos com Sua Alegria e Sua Luz!
As perspectivas que vocês leem nessas páginas são típicas do que compartilhamos com nossos alunos durante as aulas da DHB (Discovering the Hebrew Bible: Descobrindo a Bíblia Hebraica) ou da WTP ( Weekly Torah Portion: Porção Semanal da Torá). Se esses artigos aguçarem seu interesse por descobrir os tesouros ocultos da Bíblia Hebraica, ou estudar em profundidade a Parashat Shavua, juntamente com os insights do Novo Testamento, eu ficaria feliz em fornecer mais informações (e também desconto para os novos alunos) em relação aos cursos da eTeacher[1] (juliab@eteachergroup.com) .
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