“1 Em verdade, em verdade vos digo, aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. 2 Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3 O porteiro abre a porta para ele. As ovelhas ouvem a sua voz, e ele chama as suas ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4 Quando todas estão do lado de fora vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5 Elas não vão seguir um estranho, mas fugirão dele, porque não conhecem a voz de estranhos. ” 6 Jesus fez esta comparação, mas eles não entenderam o que ele estava dizendo a eles”.
Nos tempos antigos, assim como hoje, praticava-se todos os tipos de roubos. Esta ilustração era bastante familiar porque quando o Evangelho de João foi escrito grande parte das pessoas cultivavam sua própria produção e muitas vezes criavam seu próprio gado. Era amplamente sabido que, se alguém quisesse quebrar economicamente um proprietário de ovelhas, a pior coisa que poderia ser feita era deixar suas ovelhas para fora a noite e dispersá-las. Levaria muito tempo para o pastor reuni-las novamente no curral. Eles podiam, é claro roubar algumas ovelhas, mas não era possível roubar a maioria das ovelhas persuadindo-as a seguir o ladrão. Os ladrões poderiam roubar o que podiam carregar apenas depois de matar as ovelhas, destruindo assim a propriedade do proprietário. A razão pela qual o rebanho não seguiria o ladrão era simples: Elas estavam acostumadas com a voz de seu pastor.
Como Jesus continuou e intensificou seus discursos polêmicos com os hoi Ioudaioi, a identidade de sua pessoa e sua missão tornaram-se claras. Neste importante capítulo, Jesus vai recordar a imagem de Israel como ovelhas de Deus, atribuindo ao governo hierosolimitano o papel dos maus pastores de Israel, e dando a si mesmo o papel do Bom Pastor de Israel tão poderosamente descrito em Ezequiel 34:
” 1 A palavra do Senhor veio a mim: 2 “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor Deus: ‘ Ah, pastores de Israel que tem apascentado a si mesmos! … 6 As minhas ovelhas se espalharam, vagaram por todos os montes, e por todos os altos outeiros. As minhas ovelhas se espalharam por toda a face da terra, sem ninguém para buscar ou procurar por elas … 10 . … Vou resgatar as minhas ovelhas da sua boca, porque elas não podem ser alimento para eles 11 “Porque assim diz o Senhor Deus: Eis que Eu, Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e as buscarei … 15 Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e Eu mesmo vou fazê-las deitar-se, diz o Senhor Deus. 16 vou buscar a perdida, e Eu vou trazer de volta a perdida, e Eu vou curar a ferida, e Eu vou fortalecer a fraca, e a gorda e a forte Eu destruirei …23 E porei sobre elas um só pastor, meu servo Davi, e ele deve alimentá-las: ele as apascentará e lhes servirá de pastor. 24 E Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas. Eu sou o Senhor. Eu tenho falado” (Ez.34 :1-24).
“7 Então Jesus disse de novo para eles: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou o porta. Se alguém entrar por mim, será salvo entrará e sairá e achará pastagem. 10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Tem sido frequente dizer que aqui Jesus está falando sobre várias pessoas que afirmaram ser o Messias antes de ele chegar. É verdade que, antes e depois de Jesus, havia um bom número de falsos Messias. No entanto, neste contexto, eu acho que essa visão é equivocada. Não há dúvida de que aqueles que vieram para o povo de Israel antes de Jesus são os atuais governantes de Jerusalém – os maus pastores de Israel. Eles alegaram que eles próprios eram a entrada verdadeira. Eles eram a porta. Se alguém precisava entrar, tinha que ir através deles. Jesus diz que isto é definitivamente falso. Ele é a porta, não eles. Ele é o único caminho. Se alguém entrasse por ele, iria encontrar refúgio (ser salvo) e sustento (recursos de vida verdadeira). Jesus tem em mente apenas o bem de suas ovelhas. A vinda de Jesus tinha a ver com dar vida nova e abundante.
11 Eu sou o bom pastor.
Se olharmos para isso apenas no contexto de poucos versículos, é possível ver que está envolvida só a idéia de transporte, mas se considerarmos isto no contexto da conexão obvia com o Antigo Testamento com Ezequiel 34, as coisas se tornam mais claras: Jesus é o Deus de Israel, que veio para julgar e salvar.
O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12 Aquele que é mercenário, e não pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa. 13 Ele foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas próprias me conhecem, 15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
Como é óbvio a partir deste discurso, a diferença básica entre Jesus e aqueles que na época governavam Israel era o seguinte: Ele é dono das ovelhas e os outros pastores foram contratados para cuidar das ovelhas. Em outras palavras, eles somente são pastores porque recebem um pagamento. Jesus é completamente o oposto. Ele, que é dono de tudo, se fez pobre e se tornou um servo para o bem das ovelhas.
Devemos lembrar que Jesus continuou a sua conversa anterior com um grupo misto de pessoas, dirigindo muitas vezes os seus comentários para os hoi Ioudaioi presentes (tanto aqueles que acreditaram como os que não acreditam nele).
“16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Devo levá-las também, e elas ouvirão a minha voz. Portanto, haverá um só rebanho e um só pastor”.
Este capítulo do Evangelho de João é uma das passagens mais memoráveis e citadas do livro. É normal para alguém especular que esta é uma discussão acerca da unidade de Judeus e as Nações (Gentios na maioria das traduções) neste texto. Entende-se que Jesus está falando a uma multidão Judaica quando ele diz que também tem crentes entre os Gentios, que também precisam ser alcançados e trazidos sob a poderosa mão do Bom Pastor. Acho que a mensagem é maravilhosa, mas acho que não tem nada a ver com o contexto do Evangelho e a mensagem de João.
É muito mais provável que algo completamente diferente esteja em consideração aqui. Como já vimos, o autor do Evangelho de João fez uma interação forte entre Jesus e a passagem de Ez. 34 (maus pastores contra o Bom Pastor). Apenas alguns capítulos depois, Ezequiel descreve a incrível regeneração / ressurreição de Israel que ainda está no futuro (a visão do vale dos ossos secos). É lá que encontramos a chave para as palavras de Jesus em João 10:16 :
“15 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: 16 ” Tu, pois ó Filho do homem, toma um pedaço de pau, e escreve nele: Para Judá e pelos filhos de Israel, seus companheiros; depois toma outro pedaço de pau e escreve nele: Para José, vara de Efraim, e para toda a casa de Israel, seus companheiros.” 17 Ajunta-os um ao outro, faze deles um só pau, para que se tornem apenas um na tua mão … Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei para a sua própria terra. 22 Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos … 24 “O meu servo Davi reinará sobre eles; todos terão um só pastor” (Ez. 37:15-24).
O caso é claro. Jesus vem para unir Israel. Todo Israel. Será que os maus pastores de Israel estão em seu caminho? Eles vão tentar? Será que vão conseguir? Eles não vão.
“17 Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. 18 Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Eu tenho autoridade para dá-la, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai”.
À medida que se aproxima o tempo do grande confronto que irá resultar na crucificação de Jesus, torna-se evidente que um dos temas centrais no Evangelho de João é a questão da autoridade. Quem é a verdadeira autoridade? Por três dias inteiros, enquanto Jesus estava morto parecia que ele tinha realmente ultrapassado o limite de sua autoridade por ter criticado corajosamente a classe dirigente. Mas o Evangelho prepara seus ouvintes – a morte de Jesus não será porque ele não tinha autoridade sendo esta a causa de sua dificuldade. Ele tinha a autoridade para até mesmo para dar a sua vida e para retomá-la. Ele recebeu esta autoridade de seu Pai, o autor da vida.
“19 Houve novamente uma divisão entre os judeus por causa destas palavras 20 E muitos deles diziam: “Ele tem um demônio, e é insano; por que ouvi-lo?” 21 Outros diziam: “Estas não são as palavras de alguém que é oprimido por um demônio. Pode um demônio abrir os olhos aos cegos?”
Mais uma vez, Jesus conseguiu criar um senso de divisão entre os hoi Ioudaioi. Havia aqueles que o aceitavam e aqueles que o rejeitavam. As teorias sobre Jesus variavam de possessão demoníaca a servidão divina. O ouvinte foi cada vez mais pressionado para escolher por si mesmo no que acreditar sobre Jesus.
Leia a PARTE II
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